Bruno Yutaka Saito é jornalista e trabalha como editor assistente no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Foi convidado por Leonardo Cruz, também editor assistente da Folha, para participar do Blog Ilustrada no Cinema. O blog é uma forma de publicar as matérias que não saem na versão impressa e complementar as que são publicadas. Segue abaixo entrevista completa:

O que há, Cultura? - A linguagem do blog parece mais descontraída do que a linguagem dos jornais. Há muita diferença entre escrever para um blog e para um jornal?
Bruno Yutaka Saito - Tem bastante diferença, nos dois meios a gente tem que se preocupar com a notícia, checar se a informação está correta, não usar uma linguagem muito vulgar e utilizar o português correto, tanto no impresso quanto no blog. Eu acho que a diferença básica é que o blog você precisa ter uma linguagem mais descontraída e quando falo linguagem descontraída não significa ficar contando piadas, mas sim usar no blog uma linguagem mais adequada ao meio interativo. Assim, você tem que criar uma linguagem que tenha uma conexão com o leitor. Nesse meio escrevemos muito em primeira pessoa, podemos deixar clara nossa impressão sobre um evento, uma estréia, já no jornal impresso, dificilmente fazemos isso.

OQHC -
Nós temos a impressão de que no blog o jornalista pode expressar melhor sua opinião do que nos meios tradicionais como revistas e jornais, isso acontece mesmo?
Bruno - Tanto no blog quanto no impresso nós podemos dar nossa opinião, mas no blog, no meu caso, acabo dando ainda mais minha opinião. Também escrevo as sensações que tive quando vi um filme, o que é uma coisa mais livre.

OQHC - Como é a resposta dos leitores que acessam o blog? Você estabelece uma relação com eles?
Bruno - Os internautas geralmente deixam comentários nos posts, muitos deixam suas impressões positivas sobre um filme. Mas também existem aqueles comentários de pessoas que não gostam do que você falou sobre um filme, muitas vezes esse tipo de resposta é ainda maior do que os comentários positivos, criticando o jornalista e partindo para a ofensa pessoal.

OQHC - Além de escrever para o blog “Ilustrada no Cinema”, você também tem um blog pessoal, qual a diferença entre eles?
Bruno - O meu blog não tem nenhuma relação com meu trabalho jornalístico, é apenas um blog pessoal. Eu escrevo coisas pessoais minhas, coisas mais no campo da literatura do que no campo do jornalismo e não há nenhuma conexão com a Folha de S. Paulo.

OQHC - Qual sua impressão sobre os blogs que são escritos por pessoas comuns, que não são jornalistas? Podem ser levados a sério?

Bruno - Depende, sempre podemos encontrar blogs bons e ruins, tanto profissionais como pessoais. Existem aqueles que não são ligados a nenhum veículo grande de imprensa, mas que são sérios, assinados por jornalistas respeitados. Na verdade, deve-se levar analisar quem escreve o blog, se é uma pessoa confiável ou não, se realmente checa as informações antes de publicar, pois muitos adolescentes que criam uma página pessoal pegam uma informação errada e colocam no ar. Isso é complicado.

OQHC - Quando surgiu a internet e os blog, as pessoas diziam que o jornal impresso acabaria, você acha isso provável?
Bruno - Eu acho muito difícil isso acontecer, mas sempre ouço também. Segundo algumas pesquisas, isso pode até acontecer um dia, mas é bem improvável que aconteça porque a tendência é que haja cada vez mais um diálogo entre o meio impresso e o digital, um auxiliando o outro. O que não significa que um deles vai acabar, queira ou não, o jornal impresso ainda dá a sensação de maior credibilidade, por mais que seja a mesma informação no papel e no digital, um empresário ou um político vai ler um jornal impresso e ter mais sensação de credibilidade.

OQHC - Você acha que vai demorar muito tempo até os blog alcançarem a credibilidade dos jornais impressos?
Bruno - Eu não acho que o blog não tenha credibilidade, ele tem, e nos dias de hoje ele mudou muito. O blog é visto hoje como uma mídia adicional, não vai ser mais importante que um jornal impresso e o jornal impresso não vai ser mais importante que o blog, eu costumo dizer que eles são complementares.

OQHC - Um meio existe por causa do outro, há uma convergência entre eles?
Bruno - É, acho que existe um diálogo. Dificilmente o jornal impresso vai acabar, assim como dificilmente o blog vai acabar. Você lê um jornal impresso e lá encontra, no fim da matéria, escrito “leia mais na Folha Online”, ou, se você estiver na Folha Online, poderá encontrar “veja mais na versão impressa”. Hoje os blogs de economia e política tem muita credibilidade e, às vezes, como a informação é publicada mais rapidamente no blog, o furo é dado por esse veículo. Após o furo, o jornal vai publicar a mesma notícia alguns dias depois, porque tem horário de fechamento, de ir para a gráfica. Então o blog tem esse fator a mais de credibilidade no sentido de publicar mais rápido e dar as informações mais quentes. Já o jornal impresso tem a vantagem de ser “material”, as pessoas querem ter o jornal na mão, ler a primeira página.

OQHC - Você nos disse que no “Ilustrada no Cinema” são publicadas matérias que não cabem na versão impressa, as notícias publicadas na internet são as mesmas ou são diferentes das publicadas no jornal?
Bruno - Depende de cada post, volta e meia um grande estúdio de cinema convida um jornalista pra ver um filme, entrevistar os atores e diretores, como fizemos recentemente com o filme do James Bond. Na versão impressa, podemos colocar uma entrevista inteira, nós podemos pegar a entrevista toda e colocar do mesmo jeito que saiu no jornal ou modificar um pouco o texto e colocar a notícia no blog. Não tem problema nenhum publicar uma matéria mais séria que saiu no jornal e colocar na internet.

OQHC - Quais dicas você daria as pessoas que estão iniciando um blog, assim como nós do blog “O Que Há, Cultura?”?
Bruno - Primeiro vocês têm que definir o tema do blog, mas é preciso ter cuidado ao definir o assunto, o tema pode ser amplo, mas a realidade é que os internautas procuram um blog com um assunto específico. No caso da cultura geral, abrange música pop, erudita, literatura e dança mesmo arquitetura pode ser considerado cultura. Quando o tema do blog é muito amplo fica mais difícil agradar o internauta tendo tantas direções diferentes. O internauta já sabe qual blog acessar para saber mais sobre cinema, de música pop; a pessoa entra no blog já sabendo que lá encontrará informações detalhadas sobre aquele nicho. Então, para iniciar um blog é importante definir qual assunto será tratado, depois precisa ser um bom jornalista, checar bem a informação, você não pode depender só da acessória de imprensa. É fundamental estar na rua, é preciso ler muito jornal e ter uma visão crítica de tudo, não simplesmente pegar uma notícia e reproduzir no blog. No caso de um filme, questionar “será que o filme é bom mesmo?” é necessário, ler matérias de gente que falou bem e de quem não gostou do filme, para ter sua própria opinião. A diferença entre um blog ruim para um bom, é que num blog ruim uma pessoa diz apenas que não gostou do filme, mas com base em nada. Já num blog bom, o jornalista assiste ao filme duas ou três vezes para ter a opinião dele, vai comparar com outros filmes do mesmo diretor e vai pesquisar muito antes de falar qualquer bobagem. Para fazer um bom blog, ser um bom jornalista, é preciso ter uma bagagem cultural.

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